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Memórias de São João Marcos em vídeo
26 de março de 2021

Memórias de São João Marcos em vídeo

A pesquisadora Gleiciane Rosa Vinote Rocha atualmente dedica-se à elaboração de sua tese de doutorado na faculdade de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e, parte de sua pesquisa, consiste em entrevistas em vídeo com ex-moradores da cidade de São João Marcos. 

Neste papo com o Blog do Parque, a premiada professora (coautora de projeto vencedor do Prêmio Educador Nota 10; vencedora do Prêmio Curumim da FNLIJ; Vencedora do Prêmio Paulo Freire da Alerj, entre outros) compartilha a experiência do contato com quatro cidadãos da antiga cidade e a importância do resgate de suas memórias nas esferas pessoal e coletiva.

Do que trata a sua pesquisa?

A minha pesquisa é para uma tese de doutorado do Programa de Pós-graduação em Letras da UERJ, sob orientação da professora Maria Teresa Tedesco. Ela trata do estudo do processo sintático e semântico da coesão em vídeo. No que diz respeito a São João Marcos, propõe um resgate da memória discursiva dos ex-moradores, ao produzir um acervo digital com as histórias transpostas para vídeos. 

O trabalho entrevista os ex-moradores de forma oral com a intenção de buscar registros de quem viveu a história e não apenas os fatos oficiais, assim dando aos ex-moradores a função de agentes sociais, no caso da própria história, considerando aqui o termo história como pessoal e também registro do passado.

Como tem sido entrevistar ex-moradores da cidade de São João Marcos?

Entrevistar os ex-moradores, primeiramente, foi um desafio. Infelizmente, pelo avançar do tempo, é muito difícil encontrar ex-moradores vivos, que vivenciaram e se lembram da história. Entretanto, tem sido uma experiência emocionante e de um acréscimo imensurável. Até o presente momento, entrevistei quatro moradores: Sebastião Fonseca (Seu Dedeco) – nascido em 05/09/1928; Edson Medina de Souza – nascido em 14/05/1925; Dora dos Santos de Almeida nascida em 13/08/1928; e Antônio Baylão, nascido no ano de 1922. Este último foi entrevistado pela Joyce Petrus, que também realizava, na época, uma pesquisa, para graduação. Os demais, eu tive a honra de conversar.

Ouvir cada um deles é uma oportunidade de adentrar num tempo que, infelizmente, não existe mais. Mesmo que cada história seja individual, também é coletiva, uma vez que os ex-moradores estavam inseridos num contexto social. Assim, foi uma forma de transmissão informal de vivências, de normas sociais, de valores lindos e de legado cultural, em bate-papos sempre permeados de muito afeto. 

Uma oportunidade única de perceber que dar voz e escuta a essas pessoas é uma maneira de entender quem somos hoje e de propagar um conhecimento único e incomensurável, de uma época, de um mundo social, em que o consumismo e a individualidade ainda não imperavam. Um mundo que não conhecemos, mas que nos é revelado por eles, permitindo uma continuidade cultural e uma ampliação das nossas experiências.

Quais impressões você tem tido ao longo do projeto e quais descobertas você fez?

Por meio das entrevistas coletadas, notei que a expropriação foi muito difícil para esses moradores, pois precisaram deixar suas casas, afastando-se não apenas de um local físico/social, mas também de suas próprias histórias e vivências. Até hoje, fica evidente como a vida dessas pessoas tomou uma contrapartida: o significado de suas existências passou a não ser o futuro, ao que projetariam para si, mas muito mais o passado que não viveram. 

A cada encontro com alguém que vivenciou a história de São João Marcos, percebo que casas podem sumir, ruas podem ser inundadas, mas os vínculos jamais são destruídos. Assim, resgatar a memória discursiva e registrá-las em vídeo é um caminho para extrair a história, mas também entregar para sociedade essas experiências, que podem ser tão construtivas, tornando a memória uma forma de reação.

Assista: Cidadão de São João Marcos | Seu Dedeco

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